quinta-feira, 1 de julho de 2010

Suspenso na corda bamba.




Estou suspenso na corda bamba e minhas mãos tremem, minhas pupilas dilatam, meus sentidos minuciosos atentos, meu coração desesperado e meu diafragma enrijecido, contraído. Presto atenção na minha respiração que ofega por mais que eu tente controlar meu medo. A palavra chave seria tranquilidade para não mover nenhum músculo que saia dos meus planos para sobreviver, quando olho pra baixo, vejo uma distância distorcida que calcularia no chute uns 10 metros, e quando fixo meus olhos consigo ver pessoas conhecidas com trajes ritualísticos mais parecendo uma peça teatral folclórica, e todos com arcos e flechas apontadas ao alto brincando como se fosse aquelas crianças que ficam mirando no alvo e tentando derrubar, e eu ali, imobilizado numa corda bamba, apenas cuidando as flechas que riscam meu corpo.


- Olha mãe! passo raspando! grita o menino eufórico, não entendendo a situação.


- agora vou acertar no 100 meu filho! Deitando as pálpebras tornando um olhar mais furtivo ainda.




Quando ouço isso, olho para meu peito e vejo escrito o número 50, e subindo em direção ao meu rosto, aumentando os números. 60, 70, 80... Imagino que o 100 seja meu telencéfalo, meu cérebro!


Grito-lhes desesperadamente numa tentativa banal de fazer-los acordar deste transe hipnótico. PAREM! CHEGAAA DESSA PALHAÇADA! Mas sinto que isso os estimula mais, trouxe apenas sorrisos maliciosos. E o tempo não passa, mas flechas passam cortando meus pensamentos e rasgando minha camisa humilde que comprei na liquidação da Renner. Eu gostava dela. Agora ela ostenta meu próprio sangue tirado pelos cruéis homens maldosos e invejosos.


Como num desvio reflexivo, salvo minha vida numa jogada do meu corpo para trás, estilo matrix. Mas a diferença mortal é que não consigo voltar a minha posição normal e sinto meu corpo sendo atraído pela gravidade e eles rindo demasiadamente como se fossem sedentos de líquido do deserto do sahara prestes a tomar um gatorade. E minha adrelina no ápice da combustão hormonal é freiada pelo impacto mortal que recebo do chão batido. Não sinto mais nada, não vejo mais nada, me derrubaram, mas não cravaram suas flechas envenenadas de ódio no número que eles tanto almejavam, no meu cérebro.




Pippo Pezzini