sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Des morts vivants








Meus olhos agora se fecham, mas, quem sabe assim, eu possa sonhar com o intangível e, da mesma sorte, confortar minha alma com um dogma religioso, alicerçando todos os meus feitos sob a égide do ignoto.


Meu corpo agora se estende, mas, quem sabe assim, eu possa deleitar-me com o sopro da eternidade e, desse modo, acreditar até o último segundo, que as mazelas que ora me afligem, são passageiras.


Minhas mãos são cruzadas e sobrepostas em meu corpo, como em sinal de oração, para que, quem sabe assim, eu possa receber o perdão divino pela minha heresia.


Minha pele agora está fria, como um granizo pálido, mas, quem sabe assim, eu consiga distanciar-me do fogo ardente, e dos desejos insanos e pecaminosos.


Minha voz se cala, para que, quem sabe assim, eu consiga escutar os louvores, e, não obstante, neles crer, e, então, tornar-me alguém mais sensato e compreensível, como "uma parte da maioria".


Meu corpo agora vive sem vida, para que, quem sabe assim, eu possa sentir-me "parte da prole do ignoto".


A ritualística fúnebre é, no momento, a única solução para meu carma.


Talvez, a minha morte seja a transformação de tudo em que acredito, ou, até mesmo, a prova cabal de que aquilo que eu nunca acreditei, de fato "nunca existiu".


Uma rosa com espinhos envenenados é, em verdade, o que eu agora desejo.


Consumir-me num sofrimento que há muito me acompanha é, em verdade, o que se agora faz necessário.


É necessário que eu deguste o amargo do absurdo numa absurdeza ímpar, que é minha existência, a qual, "eu não acredito possuir uma essência".


Sopro poesias desbotadas à beira do abismo quando, o que realmente eu desejaria fazer, era atirar-me às mais remotas e leviatânicas profundezas.


Deixo em meus manuscritos, gotas de sangue podre, envelhecidas vinte e um anos, numa adega de hipocrisia.


Fecho, agora, o caixão dos meus desabafos e, nos calabouços da alma, no âmago da minha existência, brota agora, na primavera, uma flor sem essência.









POR ALEX CALDAS (@Alex_Caldass)