domingo, 4 de setembro de 2011

Semana do Hip Hop e escolha da Rainha da Festa da Uva











Bem-vindos à Caxias do Sul, a capital da ganância, onde a sua camisa pólo da Lacoste vale mais que o seu caráter e, o lucro do seu patrão, é mais importante que o bem-estar da sua família.
Ocorreram, nesse sábado, dois acontecimentos em Caxias do Sul. Um deles era o encerramento da Semana Municipal do Hip Hop e, o outro, era a Escolha da Rainha da Festa da Uva.
No primeiro, estavam presentes jovens e adultos, pessoas, em sua maior parte, que habitam as periferias da nossa cidade. No segundo, estavam presentes os representantes da elite caxiense, além de diversas personalidades públicas que se dirigiram até lá para prestigiar um dos eventos mais importantes de cultura na Serra Gaúcha.
Eis, pois, a minha crítica: eu não vi nenhum representante do poder público no encerramento da Semana Municipal do Hip Hop, além da Vereadora (prefiro não citar o nome) que apoiou o projeto. Onde estava o nosso Prefeito, José Ivo Sartori? Provavelmente, na escolha da Rainha da festa da Uva.
Na celebração do Hip Hop, como atração principal, estava o Poeta, Rapper e Escritor GOG. Este homem já recusou cinco convites para aparecer na Rede Globo! Por que será? Também como atração principal, estava o grupo Inquérito, do qual o Rapper Renan faz parte. Esse tal Renan, além de Rapper, é Poeta e Professor de Geografia. Esse Renan alfabetiza, gratuitamente, crianças que trabalham em plantações de cana-de-açúcar e, também, em habitamentos de sem-terras. Então, eu me pergunto: onde estavam as personalidades públicas para prestigiar esses cidadãos que lutam pela nossa pátria amada, sustentada e adorada no Hino Nacional? Provavelmente, as personalidades públicas estavam, tão somente, com os olhos voltados para “o jogo de interesses” que envolve a Escolha da Rainha da festa alhures mencionada.
Já vi, há algum tempo atrás, alguém dizendo que Caxias era a capital da cultura. Pois bem, reflitamos sobre o tema. De qual cultura nossa cidade é a capital? Da cultura da avareza? Da mais-valia? Da exploração? Dirão por aí que não! Dirão por aí que Caxias tem a Semana Municipal do Hip Hop e outras tantas manifestações de cultura, além, é claro, da Festa da Uva, aquela que representa a cultura italiana, a mais forte em nossa região.
Sim, claro, a cultura italiana! A cultura dos cabelos lisos, loiros e dos olhos claros. Mas, seria só isso? Alguém mais aí lembra daquela máxima que norteia muitos descendentes de imigrantes: “negri tutte ladre”?
Infelizmente, aqui, aquele que tem SILVA no sobrenome, ou a pela mais escura e mora distante do centro, muitas vezes é taxado como bandido. Ser negro é sinônimo de ser criminoso, para uma grande maioria nesta cidade. Mas, por óbvio, haverá de aparecer algum hipócrita e me dizer que isso é uma falácia. É lógico que é. Nem todos os negros e moradores de periferias são ladrões. É claro que não!!! Aqueles que não são criminosos (uma maioria absoluta) estão condenados a trabalhar quase que de maneira escrava dentro de um submundo metalúrgico. Ou, vocês, que tem oportunidade de freqüentar uma universidade, estão acostumados a ver essas pessoas que pertencem a esse grupo social lá dentro? Me contem, quantos negros vocês conhecem que estudam ou são professores no Ensino Superior? A resposta é triste: pouquíssimos.
Mas qual o problema com isso? O problema, repito, é que nenhuma personalidade pública foi prestigiar o encerramento da Semana Municipal do Hip Hop. O problema é que os olhos não estão voltados para as periferias. O problema é que, em Caxias, só é realmente valorizado como cultura o evento que tem participação da aristocracia caxiense.
Para as personalidades públicas, não é conveniente ter uma população educada, pois, se assim o fosse, ficaria mais difícil ludibriar o povo e comprá-lo com cestas básicas. Percebo, com tristeza, que as personalidades públicas somente passam a se interessar com aqueles que vivem em condições subumanas, quando estes se revoltam e começar a atentar contra a segurança daqueles que moram no centro, contra aqueles que freqüentam os bailes no Juvenil. Mas o que fazer com aquele “bandido” que assaltou o filho do empresário “fulano de tal”? A resposta é simples: devemos prendê-lo! Já dizia um trecho de uma música do Grupo Inquérito, que se apresentou no encerramento: “os talentos não são revelados, são presos”.
O assunto trazido à baila permite-nos discorrer mais de mil páginas, mas, ei de me deter no assunto principal, ou seja, nenhuma autoridade pública esteve presente no encerramento da Semana Municipal do Hip Hop. O que isso significa? Significa que, na “na cidade da avareza”, para muitos, ainda reina a máxima “negri tutte ladre” e, enquanto isso perdurar, não há falar em reais melhorias para a população carente e, tampouco, em valorização da mesma.
Chega a ser um pouco utópico imaginar, mas eu gostaria de ver o Prefeito da cidade, um representante do Legislativo, do Ministério Público e outro do Judiciário prestigiando os grafiteiros que dão vida aos muros mortos do cemitério de Caxias do Sul, logo ali na “vila”.
Enquanto isso não acontece, prossigamos nossos debates inúteis sobre segurança pública e superlotação dos presídios. Mas eu deixo um aviso: do jeito que estão as coisas, o número de habitantes da PICS e do Apanhador só tende a aumentar e, a violência, também. Movimentos que visem a mostrar um novo caminho para os jovens carentes devem ser realmente prestigiados, sob pena de não termos mais grades suficientes para trancarmos tantos monstros gerados pelo sistema.




Por Alex Caldas (@Alex_Caldass)