domingo, 28 de agosto de 2011





Este emaranhado de letras visa a expor, em palavras breves, uma crítica sobre o documentário do jovem carioca Sandro, sobrevivente do massacre da candelária, e morto, como hoje se encontram, muitos daqueles que ousaram nascer desafortunados na Terra de Vera Cruz. Tenho a certeza, de que nem se descendesse diretamente de Machado de Assis, ou do poeta Quintana, não seria capaz de discorrer com perfeição, em prosa ou poesia, a realidade caótica da sociedade com a qual nos deparamos ao pormos os pés na rua de casa.

A miséria, a fome, a exclusão social, a falta de educação e lazer, deram origem a uma sub-raça de homens-monstros, que impõe terror, dos barracos de madeirite, aos palácios de Platina [1]. Vê-se em todos os cantos e ouve-se em todos os meios de comunicação, notícias alarmantes, dados terroríficos, revelando estatísticas de uma criminalidade que se propaga de maneira estupidamente veloz. O Estado Leviatã, doutrinado por Hobbes, apresenta-se cada vez mais no sentido bíblico da palavra. Isso mesmo, no sentido de monstro!

A história de Sandro é apenas mais uma, de outros milhares que foram assassinados pelo sistema, e desovados em uma vala qualquer. A paz padece, as mortes passam a ocorrer com mais frequência, e o que percebemos, é uma constante exclusão, um legítimo Apartheid Social, que nutre o ódio e a cólera, daquele que não tem como alimentar o estômago. Desta sorte, essa cólera alimenta a violência, e a violência causa inúmeras mortes, e as mortes causam o medo, e o medo gera uma xenofobia social crônica.

A efígie de país alegre, difundida no exterior, é paradoxal. Percebe-se, lucidamente, ao darmos atenção às absurdezas cotidianas, que o brasileiro apenas aprendeu a rir de suas desgraças, acostumando-se com elas, e, desta sorte, fazendo pouco para que o infortúnio tenha um fim. Esse tipo de atitude faz com que nos postemos entre os países mais desiguais do mundo.

Entretanto, ressaltados todos esses pontos mortificantes, dessa pátria amada, sustentada e adorada no Hino Nacional, é de importância, na consciência deste que escreve, questionar-se sobre o sistema e seus mantenedores. É revoltoso ter ciência de que toda essa desgraça é gerada por mentes pútridas, pérfidas, egoístas, mas, sobretudo humanas, ah demasiado humanas.

O descaso de um filho da p*** afoga no barro toda a sua família, me põe num assalto, de Taurus sonhando...(a286– Misericórdia)

A corrupção política, o real descaso nas áreas da saúde, educação e cidadania, faz com que tenhamos no papel a Constituição mais bela do globo, contudo, nessa mesma lógica, a mais pérfida. O mesmo estado que na sua Lei Magna redige os Direitos Fundamentais do cidadão, é o primeiro a privar-lhe, quando a estes os recorre. Essa hipocrisia difundida pela burguesia, gera uma antipatia ao mais necessitado, ao desafortunado, ao morador da periferia, e dá origem aos homens-monstros supracitados, que degolam motoristas nas sinaleiras, seqüestram empresários, assaltam bancos e promovem uma hecatombe singular, fazendo com que o pânico transpasse por todas as esferas da sociedade, da classe alta, à classe pobre; a primeira, com medo de morrer, e a segunda, sabendo que se não matar, morre de fome.

O forno crematório espalha as cinzas como gripe, anuncia a queda das Babilônias, Tamboré, Alphaville. (faccção Central-Memórias póstumas do apocalipse).

Por fim, esclareçamos alguns pontos questionáveis. As citações podem ser de origem violenta, entretanto, elas são proles das partes mais ínfimas da sociedade, vez que o sonho utópico de Harvard, não floresce nos casebres de compensado, cerceados por esgotos ao ar livre, onde se proliferam pestes e todos os malefícios das drogas. Nesse ambiente, cresceu e morreu Sandro, apenas mais uma vítima do descaso da sociedade paradoxal brasileira, apenas mais um, que ousou nascer desafortunado na Terra de Vera Cruz.

Então te pergunto Brasil. Dos filhos deste solo, tu és mesmo mãe gentil?






Alex Caldas (Twitter: @Alex_Caldass)









Quer seu filho indo pra escola e não voltando morto, então meta a mão no cofre e ajude o nosso povo (Facção Central - Isso aqui é uma Guerra).