quarta-feira, 7 de setembro de 2011

De Auschwitz ao Rio de Janeiro













Ontem, por volta das 23h00min, quando cheguei da Faculdade, resolvi ligar a televisão e, eis que, de repente, a reportagem sobre economia, na Globo News, foi interrompida, para que uma repórter falasse, ao vivo, direto das favelas do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.
A intervenção versava sobre um confronto entre Policiais Militares e bandidos que, novamente, assombrava a cidade maravilhosa. Li na internet, que o exército novamente adentrou as favelas com a missão de restabelecer a paz e fazer cessar os confrontos.
Me parece um paradoxo, ou seja, vejo que tudo isso é um tanto contraditório. Alguém aí já parou para se perguntar, de que maneira os milicianos vão acabar com os referidos confrontos? É óbvio, matando os bandidos! Mas e os que não morrerem? Serão, pois, entulhados em presídios superlotados para “apodrecerem” (no sentido literal da palavra) atrás das grades.
E, então, depois de tantas mortes, ressurge aquela velha pergunta: isso – esses assassinatos em massa – resolverá? A violência será banida do Complexo do Alemão? A resposta, também, é velha e notória: lógico que não!
Mas, se já é sabido que promover morticínios não resolve o problema da violência, por que continuamos a aplaudir essas condutas? Alguém aí já parou para se perguntar, por que razão o Rio de Janeiro está sendo – pasmem – “pacificado”? Será, realmente, que as autoridades públicas estão preocupadas com a população carente que carece, não só, mas, também, de segurança? Não sei não, mas me parece que, por trás de tamanha preocupação com os moradores daquele complexo de favelas, está o interesse de grandes empresários envolvidos na organização da Copa do Mundo de 2014. Por isso, tantas mortes. Nenhum dos interessados no morticínio está, realmente, preocupado com o fim da violência. O que eles querem, então? Outra vez, a resposta é óbvia: eles querem passar um “blush e uma base” na pele mal cuidada da cidade maravilhosa, para que os turistas – no período em que compreende Copa do Mundo e Olimpíadas – venham, gastem e enriqueçam ainda mais estes pérfidos empresários.
Em certa ocasião, o poeta escreveu o seguinte: “Posso Parecer Psicopata, Pivô Pra Perseguição, Prevejo Populares Portando Pistolas, Pronunciando Palavrões, Promotores Públicos Pedindo Prisões”.
Qual a moral dessa estória? Nenhuma! O senso comum, imbecilizado, há de aplaudir a hecatombe e, não fosse isso o bastante, há de acreditar que realmente essa funesta repressão neoliberal trará resultados consideráveis.
Todavia, eu vos convido a filosofar, deixar, por alguns instantes, de se preocupar com o desfecho da novela, e voltar os olhos para o absurdo que estamos cultuando. Hoje, claro que com uma roupagem holllyoodiana, muito menos agressiva aos olhos da sociedade, eu comparo o Rio de Janeiro aos campos de concentração de Auschwitz, com uma rélis diferença: aqui, os mortos não são Judeus, mas, sim, os filhos do sistema.
Provavelmente, minhas palavras serão terrivelmente mal interpretadas, e os hipócritas por aí dirão que sou louco. Mas, repito uma frase que escrevi no Jornal O Trilho: “o que são os loucos, senão a total ausência do senso comum?”
Há mais de dois mil anos essa moral servil nos diz que temos de ser como cordeiros em um rebanho, que tem suas ações determinadas por um pastor. Mas, para que servem cordeiros, senão para serem devorados pelos lobos?
Já é hora de começarmos a perceber o mundo onde vivemos e nos posicionarmos sobre os acontecimentos deste.
Eu não aplaudo um Rio de Janeiro versão Auschwitz, e você?
Em silêncio, no meu quarto, fico me perguntando: quantos corpos ainda serão enterrados, para que o Luan Santana, a Ivete Sangalo ou qualquer outro que vende música pasteurizada, possa cantar na abertura da Copa do Mundo de 2014?
Alguém, um dia, cantou assim: “tudo é válido, onde quem faz filme pornográfico, vira rainha e tira o material do mercado...”




Por Alex Caldas (@Alex_Caldass)