domingo, 25 de setembro de 2011

É mesmo para ter vergonha!

É mesmo para ter vergonha.

No domingo 18-07, eu participei, junto com outras pessoas, de uma manifestação organizada pelo Movimento FAZ AGORA, que visava a combater a corrupção. O movimento, posteriormente, foi divulgado pela Rádio Caxias e pelo Jornal Pioneiro.
Ocorre que, ontem, um conhecido perguntou-me se eu não tinha “vergonha” de ir me manifestar, gritar, fazer “fiasco”, na frente de milhares de pessoas. Foi, pois, nesse momento, que eu respondi o seguinte: eu tenho vergonha de ver o meu país ser lembrado no exterior, como o país da malandragem, do jeitinho brasileiro, onde tudo pode ser feito e “não dá nada”. Tenho vergonha de ver meu país ser reconhecido internacionalmente pelas suas mulheres praticamente desnudas e com bundas lindas. Tenho vergonha de saber que muitos turistas aportam na Terra de Vera Cruz à procura de prostitutas crianças e adolescentes, muitas, inclusive, ainda virgens. Tenho vergonha de que digam lá fora que no meu país está o pior presídio da América Latina. Tenho vergonha de ver um estrangeiro dando a seguinte declaração: “eis o porquê de os brasileiros jogarem futebol tão bem: eles não estudam, só jogam bola, desde criancinhas ”. Tenho vergonha de saber que o meu país ainda é um dos mais desiguais do mundo. Tenho vergonha de que digam por aí que o meu país é o país do “mensalão”. Tenho vergonha de ter um ex-presidente, dizem por aí, que uma quantia razoável em dinheiro para cada parlamentar que votasse a favor de uma emenda constitucional que permitia a reeleição. Tenho vergonha de viver em um país onde os criminosos da ditadura ainda não foram punidos. Tenho vergonha de ter meu país internacionalmente conhecido pelo carnaval. Tenho vergonha de viver no país com a maior tributação mundial e, ao mesmo tempo, não ter saúde, educação, alimentação, saneamento básico, acesso a cultura e lazer de qualidade. E, o pior de tudo, eu tenho vergonha de fazer parte de um povo que aceita tudo isso de braços cruzados e ainda vota no “Tiririca” como forma de protesto. É disso que eu tenho vergonha!
Quero, desde já, frisar que não tenho nada contra a pessoa do Tiririca. Mas eu tenho a certeza absoluta de que o povo brasileiro errou ao colocá-lo lá. Eis o porquê eu digo isso: para aqueles que não sabem o voto para deputado é proporcional. O que isso significa? Se você vota em um determinado candidato, este será somado ao de outros candidatos do mesmo partido (ou coligação). O voto para cargos do Executivo e para senador não é transferível. Vai para aquele nome e ponto. Nas eleições para deputado, um voto é agregado aos de outros nomes da lista (que pode ser um partido ou coligação). Sendo assim, o candidato Tiririca, com um total de 1.353.820 votos, levou consigo outros três deputados que, provavelmente, não seriam eleitos – porque a vontade do povo, evidentemente, era de que eles não fossem postos no poder –. Novamente, uma pergunta: o que eu quero dizer com isso? Estou afirmando que quando o povo votou no Tiririca, como forma de “protesto”, ele acabou por dar um tiro no próprio pé, ou seja, acabou prejudicando a ele mesmo, afinal, sabe-se lá quais eram os interesses daqueles que foram eleitos “nas costas do nosso debutado vulgarmente conhecido como abestado”.
Voltando ao tema principal, quero dizer que eu não tenho vergonha de ir para a rua e “fazer fiasco”. Muito pelo contrário, eu acho que vergonhoso é assistir o holocausto e ficar calado. Vergonhoso é aceitar que os parlamentares votem um aumento astronômico no seu próprio salário (61,8%). Vergonhoso é aceitar que escolas públicas não tenham sequer giz para que os professores possam lecionar. Vergonhoso é aceitar que mesmo já tendo pagado 1 trilhão de reais em impostos, até setembro de 2011, o brasileiro não tem saúde pública decente. Vergonhoso é ter de aceitar dizerem que o Palocci é um gênio do empreendedorismo e que o aumento do número de Vereadores é para fortalecer a democracia.
Eu percebo uma hipocrisia tão grande nas pessoas, uma falsa moralidade. Chego a perder as contas de quantas pessoas reclamam do nosso governo sentadas em poltronas confortáveis, sendo imbecilizadas pelas Redes de Televisão Globo e Record – e outras também, mas duas essas são as com maior audiência – . Já dizia o ditado: reclamar é fácil! Pois bem, eis que cheguei onde queria: as pessoas apenas reclamam, reclamam e reclamam, mas não agem. E, como se não fosse o bastante o simples ato de permanecer inerte - o que já é uma afronta ao ideal de Democracia - essas pessoas ainda riem e debocham da cara dos inconformados que saem para as ruas com o fito de protestar contra todas essas barbáries.
Então, para não me delongar muito, deixo a seguinte reflexão para os leitores: quem deve sentir vergonha? Aquele que sai para as ruas em busca de dias melhores? Aquele que não aplaude essa onda gigantesca de corrupção e, por isso, protesta? Ou aquele que permanece inerte frente ao absurdo que estamos cultuando?
Eu acredito que temos duas opções: ou aplaudimos a corrupção ou protestamos contra ela. Aquele que fica sentado, apenas reclamando em silêncio, de maneira indireta está aplaudindo tudo o que critiquei até agora, afinal, nada faz para mudar a realidade. Eu escolhi protestar, contudo, sou democrático e respeito aqueles que creem não ser a corrupção o motivo de o povo brasileiro – em sua grande maioria – não ter educação, alimentação, saúde, cultura, lazer e segurança dignas de quem já pagou mais de 1 trilhão de reais em impostos até o mês de setembro de 2011.





Por Alex Caldas (@Alex_Caldass)