segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Pó...

O assombro milenar é trazido a lume numa poesia singela. No exato momento em que dou cabo do meu cappuccino amargo, medito sobre as poesias que ficam ocultas nas poesias que são expostas.
As palavras são como prostitutas e, por isso, eu as amo!  Imagino como seria viver em uma monogamia literária. Imagino-me esposado eternamente a um único livro, a uma única poesia.
É necessário que saibamos que a vida da voltas. É necessário que saibamos que o balanço faz sempre o mesmo movimento: sempre vai, e sempre volta. É necessário que saibamos que os antigos previam o futuro na borra do café, contudo, a única coisa que de fato viam, era a borra do café. De resto, aqueles que acreditavam que o futuro pode ser previsto, acabavam por construir o que outrora fora idealizado – inventado –, na borra do café.
Falta-me hoje alguma inspiração, falta-me hoje um pedaço do corpo. Falta-me hoje um pedaço do dia. Falta-me hoje um raiar do sol. Falta-me hoje um resquício de esperança. Falta-me hoje a real solidão.
A solidão é demasiado complexa, uma vez que vai além das companhias humanas. Hoje me posto sozinho, não tenho comigo nenhuma companhia em corpo presente. Contudo, meus pensamentos variam em lembranças que eu deveria extinguir. Minha memória oferta-me uma taça de fracasso, amargo, como o café que agora degusto.
Sei que os balanços do parque tornarão, mas as crianças que lá irão brincar, não serão as mesmas. Cada ida e vinda do balanço leva uma criança e traz de volta um adulto; o balanço leva um sonho e traz uma desilusão. Quem sabe meus filhos brinquem no balanço. Quem sabe desabroche uma flor naquele parque.
Aliás, o parque sempre estará lá. Mesmo que na minha memória, mesmo que na memória do poeta, ou, quem sabe, na memória das crianças que lá brincaram.