segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Àquelas pessoas...

É-me difícil compreender aquelas pessoas
Calam por nada
Manifestam-se por tudo
Entreolham-se como se fossem normais
Como se fossem iguais a mim

Não sou nada senão uma bomba
Uma personalidade estupidamente explosiva

Aquelas pessoas não são normais
Elas pensam que são iguais a mim
Mas em verdade elas são melhores

Elas não querem saber dos meus olhos
E nem do meu caráter
Querem os carmas dos meus antepassados
Tatuados no meu sobrenome

Eu não sou nada senão derrota
Eu não sou nada senão vitória

Aquelas pessoas são predestinadas
Eu, um construtor
Destruo torres ideais
Parábolas
Profecias
Manchetes de jornais

Aquelas pessoas são felizes
Eu, um destruidor
Construo babilônias
Questiono verdades

Aquelas pessoas falam sobre verdades
Dizem-me mentiras
Rezam sempre as mesmas cartas

Aquelas pessoas não ligam para o olhar
Importam-se com a minha tatuagem
Mas eu não tenho um sobrenome
Por isso de nada vale a minha presença

Por não ter nada
Não valho nada
Por isso não sou nada
Por não ser nada sou uma bomba
Uma personalidade estupidamente explosiva
Arrebento templos
Mentiras
Verdades
Valores
Sociedades
Conceitos
Personalidades
Livros
Parábolas




POR ALEX CALDAS (@Alex_Caldass)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Entrelinhas

''Sempre precisei de um pouco de atenção...
Acho que eu não sei quem sou, só sei do que não gosto''

A poeira ainda presente no ar
Impedindo-nos de pensar
E nós, sem paciência
Atropelamos a consequência

A causa não é a questão
Olhamos apenas a imperfeição
Cegos, tolos, mascamos chiclete
Enquanto o vento corta o tempo

Ponho minhas mãos no bolso
Esperando encontrar uma solução
Esperança no olhar do moço
Aguardando um aperto de mão

Quem dirá que é impossível?
A opinião alheia?
será possível
Nos encontrar na lua Cheia

Pippo Pezzini





quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Eu tentei...



Cavalheiros, eis vos digo que definitivamente tentei
Esforcei-me, abri a mente, me libertei
Questionei minhas ideologias, as critiquei
Sim, respeitáveis homens, eu tentei

Ao redor, todos aqueles a quem amo me criticaram
Piorando então alguém que além de tudo, muitos problemas tem
Num furacão de idas e voltas, me lancei
Busquei força ao meu redor, ó sim eu tentei

Sendo bom ou mau, refleti meu passado
Mesmo assim algo permanecia errado
Todos na mesma estrada, então eu desviei
Sim, engolindo meu orgulho, eu tentei

Vi então minha tentativa em vão
O ódio, o preconceito, a frieza, não, nada mudou
Sentindo nojo de mim, dera um passo para trás para ser como vocês
Sim ó cidade eu tentei

Nada mudou, pois o lobo ainda estava em mim
Um lobo que não aceitou o cativeiro
Que não se humilhou e tapou os olhos por dinheiro
Diante dos senhores conservadores, ser um de vocês eu tentei

O espírito de águia em mim continuou
A injustiça e hierarquia maléfica jamais hão me amolecer
Com lágrimas nos olhos e coração apertado ainda fiquei
Mas senhora futilidade, a ti para sempre chutei

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

À minha e à tua infância: um texto de quando eu era criança...

A infância é, talvez, das fases da vida, a mais bela. Digo isso, pois tenho vinte e um anos de idade, e uma baita saudade daquele tempo em que eu podia perguntar tudo, dizer tudo o que queria e, não obstante, podia brincar por horas a fio. Lembro-me que naquele tempo eu acordava cedinho – eu não tinha preguiça – e ia para a casa dos meus primos, e lá ficava até a hora do almoço. Nós tínhamos uma casa na árvore, que o meu tio fizera para nós. Lembro-me bem daquela árvore; era um chorão; tinha as folhas finas e seus galhos eram como cascatas de cor verde. A casa era de madeira, tinha uma escada para subirmos, e uma corda para descermos. A corda era grossa e transada, daquelas utilizadas em navios, que o avô dos meus primos trouxera do porto de Rio Grande, há muitos anos.

Recordo-me, também, que o meu tio-avô, ou melhor, o avô dos meus primos, tinha cinco vacas e uma égua, que ele criava num potreiro que ficava bem pertinho da minha casa. Esses potreiros não existem mais nas cidades grandes, aliás, nem lá em Vacaria, onde eu morava. O terreno do potreiro foi comprado por uma construtora, e lá, será construído um condomínio. Mas naqueles tempos de ouro, eu e meus dois primos armávamos uma barraca no meio do campo e lá acampávamos. Tínhamos um despertador daqueles bem velhos, e o programávamos para acordar às 04 horas da manhã. Quando escutávamos aquele “triiiiiiiiiiiinn, triiiiiiiiiiiinn, triiiiiiiiiiiinn”, pulávamos em questão de segundos, da cama. Então, íamos até o galpão, onde o meu tio-avô tirava leite das vacas, e lá, saboreávamos um delicioso camargo. Ainda sinto o cheiro do pasto umedecido pelo orvalho; ainda me lembro de como era lindo ver o por do sol sentado na grama molhada.

Às vezes, eu pegava minha bicicleta – aliás, bicicleta é coisa rara nas cidades grandes – e ia para o sítio de uma tia da minha mãe. Eu pedalava mais ou menos três horas; no caminho, eu ia observando os campos e as flores; lembro-me das marcelas na beira da estrada, dos quero-queros, dos bem-te-vis e dos tesoureiros.  Isso são coisas que agente não vê nas cidades grandes. Quando chegavam as férias do colégio, eu ficava até uma semana no sítio; andava a cavalo, pescava e fazia aventuras na mata. Lá, no sítio, eles tinham plantação de bergamota, ameixa e laranja.

Eu tinha um cachorro grande e bonito, mas que me mordia sempre. Tenho, até hoje, duas cicatrizes de suas mordidas. Mas eu amava tanto aquele meu companheiro, que nem dava bola quando ele me machucava. Acredito que os amigos devem perdoar uns aos outros. O nome do meu cachorro era “Loiro”, ele era branco com manchas amarelas. Ele pulava em cima da minha cama e lambia minha cara – foram os melhores bons-dias que recebi até hoje -, naquela época, eu não achava aquilo nojento, pelo contrário, adorava. Eu tenho saudade daquele meu amigo. Ele morreu por que alguém jogou água fervendo nele. Nós chamamos o veterinário, passamos todos os remédios possíveis, mas não adiantou, ele se foi. Eu me lembro do dia em que ele morreu; tinha feito sol; quem o encontrou foi o meu irmão; ele morreu atrás da minha casa e nós o enterramos ao lado de um pé de Butiá, que tinha no quintal. Passados uns quatro anos, eu tentei desenterrá-lo, mas não encontrei mais nada lá. Eu ainda tinha esperanças de reencontrá-lo, e foi então que, pela primeira vez, eu percebi que aqueles que se vão, não voltam, não importa o quanto choremos e resmunguemos.

Jamais me esquecerei da minha professora da 3ª série. Eu estudei na escola Irmão Getúlio. A minha professora dava todos os dias, de tarefa, uma redação. Cada dia era um tema diferente; cada redação era uma história encantada; cada frase que eu escrevia transportava-me a um mundo totalmente novo. Mas a melhor parte ficou para o final; quando já estava encerrando o ano letivo, minha professora reuniu todas as nossas redações e mandou encadernar.  Eu escrevera um livro! Um livro de criança, com histórias de criança, com sonhos de criança, com delírios de criança. Eu guardei esse livro por muitos anos e com muito zelo, mas quando me mudei para Caxias do Sul, acabei perdendo-o na mudança. Mas, nessa época, eu já sabia que aqueles que se vão, não tornam, por isso, suportei tranquilamente essa perda, mas confesso, com um sincero pesar. Eu ainda guardo na lembrança praticamente todas as histórias daquele livro encantado, e sempre que vejo um emaranhado de papéis no chão, eu olho auspicioso, como se ainda tivesse uma esperança de reencontrar a minha obra prima.

Tenho lembranças boas das minhas viagens para o Rio de Janeiro. Eu, meu pai e meu irmão, íamos pescar na praia de manhã cedinho; levávamos também uma pipa – aqui no sul as crianças não brincam disso – . Uma vez, nós pescamos vinte e quatro peixes, e a minha avó, fez todos à milanesa, na hora do almoço. A minha avó tinha dois Jabutis e eu os adorava; ficava imaginando como seria ter uma armadura nas costas.

Já estava com onze anos de idade, quando os aviões se chocaram contra as torres gêmeas. Também não me esquecerei jamais daquele dia; eu não perdia um capítulo do Dragon Ball, mas naquele dia, naquele capítulo que daria novo rumo ao desenho, a Globo passou a manhã inteira transmitindo aquela chatice – pra mim e para todas as outras crianças, aquilo era sim uma chatice –, e aquilo me deixou muito aborrecido, nem consegui me concentrar na aula depois. Mas o pior estava por vir. No outro dia, a Globo não repetiu o capítulo interrompido, prosseguiu a saga, deixando-me totalmente desinformado, sem saber o que havia acontecido no desenho. Insta ressaltar que naquela época eu não tinha internet em casa, portanto, tive que esperar dois anos para esperar o desenho passar novamente na televisão. Insta ressaltar, que naquela época eu não tinha Orkut, Facebook, nem tampouco Twitter.

Quando criança, eu vi o Brasil ganhar a Copa do Mundo contra a Itália e, quatro anos depois, vi o Ronaldinho ter uma convulsão, e toda a nossa nação assistir atônita a derrota para a França do maestro Zidane e, do ainda jovem, Thierry Henry.

São algumas lembranças que eu tenho dum tempo bom, que, certamente, não tornará. Hoje em dia tenho a impressão de que o meu tempo é cada vez menor; sinto-me esgotado na hora em que acordo; não colho mais frutas no pé; jogo Play Station ao invés de brincar de esconde-esconde. Hoje em dia, eu tenho pré-conceitos, responsabilidades e alguns dogmas. Hoje eu tento reviver em mim os “por-quês”, as dúvidas, a alegria. Hoje eu não tenho mais tempo para assistir o desenho do Chaves; chego em casa à noite, e só me resta o Big Brother Brasil – a espetacularização da imbecilidade –. Quando eu falo para alguém sobre o desenho do “Pequeno Príncipe”, ninguém mais lembra; quando eu falo em calça colorida, me falam do Restart, e eu, boboca, digo que sinto saudades dos Mamonas Assassinas – quem amafagafar os mafagafinhos bom amafagafinhador será –.Eu sinto saudade do tempo em que eu comprava um picolé com R$ 0,50, e que o picolé era minissaia – laranja com uva –, e não, Frutare natural por R$3,00.  Sinto saudade da Coca-Cola com garrafa de vidro, do refrigerante Teem e dos cartões telefônicos para coleção.

Hoje eu tenho vinte e um anos, e a certeza de que aquilo que realmente se vai, não há de tornar, razão pela qual, eu ando por aí, às vezes como um doido, sentando nos bancos e roubando flores dos jardins, pois sei, que daqui alguns anos, sentirei saudade desse tempo, do meu quarto e dos colegas de faculdade. Por óbvio, lá na frente, irei dar risada de momentos como esse, porque a felicidade só pode ser encontrada no passado, uma vez que o presente não existe e o futuro oferta-nos tão somente preocupação.
POR: ALEX CALDAS (Alex_Caldass)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Des morts vivants








Meus olhos agora se fecham, mas, quem sabe assim, eu possa sonhar com o intangível e, da mesma sorte, confortar minha alma com um dogma religioso, alicerçando todos os meus feitos sob a égide do ignoto.


Meu corpo agora se estende, mas, quem sabe assim, eu possa deleitar-me com o sopro da eternidade e, desse modo, acreditar até o último segundo, que as mazelas que ora me afligem, são passageiras.


Minhas mãos são cruzadas e sobrepostas em meu corpo, como em sinal de oração, para que, quem sabe assim, eu possa receber o perdão divino pela minha heresia.


Minha pele agora está fria, como um granizo pálido, mas, quem sabe assim, eu consiga distanciar-me do fogo ardente, e dos desejos insanos e pecaminosos.


Minha voz se cala, para que, quem sabe assim, eu consiga escutar os louvores, e, não obstante, neles crer, e, então, tornar-me alguém mais sensato e compreensível, como "uma parte da maioria".


Meu corpo agora vive sem vida, para que, quem sabe assim, eu possa sentir-me "parte da prole do ignoto".


A ritualística fúnebre é, no momento, a única solução para meu carma.


Talvez, a minha morte seja a transformação de tudo em que acredito, ou, até mesmo, a prova cabal de que aquilo que eu nunca acreditei, de fato "nunca existiu".


Uma rosa com espinhos envenenados é, em verdade, o que eu agora desejo.


Consumir-me num sofrimento que há muito me acompanha é, em verdade, o que se agora faz necessário.


É necessário que eu deguste o amargo do absurdo numa absurdeza ímpar, que é minha existência, a qual, "eu não acredito possuir uma essência".


Sopro poesias desbotadas à beira do abismo quando, o que realmente eu desejaria fazer, era atirar-me às mais remotas e leviatânicas profundezas.


Deixo em meus manuscritos, gotas de sangue podre, envelhecidas vinte e um anos, numa adega de hipocrisia.


Fecho, agora, o caixão dos meus desabafos e, nos calabouços da alma, no âmago da minha existência, brota agora, na primavera, uma flor sem essência.









POR ALEX CALDAS (@Alex_Caldass)